sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sessão de Hemodiálise 409

A sessão de ontem parecia não ter fim, como já ocorreu muitas outras vezes. Dava a impressão de que a última hora estava durando uma sessão inteira de 4 horas. Fiquei vendo quanto tempo faltava para minha sessão acabar olhando para o tempo que faltava para a sessão dos outros terminar, na máquina deles: 56 minutos, 56 minutos, 56 minutos..., 55 minutos, 55 minutos, 55 minutos..., 54 minutos, 54 minutos, 54 minutos...

Quando faltavam 10 minutos para terminar minha sessão, comecei a ter cãibra no pé direito – pacientes em tratamento de hemodiálise apresentam câimbras com frequência, e isso acontece ou porque se retira líquido demais do organismo (ultrafiltração) ou devido às elevadas taxas de anti-hipertensivos no corpo, ou, ainda, por causa do desequilíbrio dos eletrólitos, como a falta de potássio. Inclinei-me para a frente na cadeira e me sentei para tentar massagear o músculo que se contraía, e aí minha pressão começou a baixar. Antes que aquela sensação de morte, que já comentei, se instalasse, falei para a equipe de enfermagem que minha pressão estava caindo e um dos enfermeiros veio rapidamente cuidar de mim. Já que estava prestes a ser desligado, aproveitaram para me injetar gluconato de cálcio – como sempre tomo no final da diálise, devido à deficiência de cálcio –, que produz uma sensação de queimação na circulação sanguínea, que não é dos efeitos mais agradáveis e veio se somar à queda de pressão e à cãibra, mas melhorei depois disso.

Já em casa, um pouco recuperado, porém exausto – nem comi, deitei direto –, fui acordado por uma repentina cãibra no braço da fístula. Não havia o que fazer, e era o tipo de cãibra que ia judiar, não só por ser uma cãibra – afinal, cãibra todo mundo tem! –, mas, por não ser possível massagear o músculo que fica embaixo da fístula, para amenizar a dor. É a dor por conta própria, até que decida ela mesma ir embora. Com a dor intensa, fui até o chuveiro colocar o braço embaixo da água pelando, porque às vezes ajuda a aliviar, mas, como minha pressão já havia caído na sessão, ela começou a baixar novamente e eu percebi que ia desmaiar no banheiro, então, corri para o quarto antes que batesse a cabeça na quina da pia ou na borda da privada ou algo assim, e deitei na cama.

Nesse tratamento, não se tem um dia de sossego, ora é um tipo de tormento, ora outro. Não há um dia em que eu esteja me sentindo cem por cento, completamente sem dor, ou sem tontura, ou sem pontadas no coração, ou sem ânsia de vômito, ou sem fraqueza... Tudo isso cansa e, às vezes, desespera: faz você desejar ser uma pessoa com mais saúde.

Hoje, o Seu Antônio, que não é o mesmo Seu José Antônio citado no post “Sessão de Hemodiálise 399”, passou muito mal na diálise. Quando eu tirei essa foto dele (distante, para preservar sua identidade), captando sua agonia, ele já havia sido desligado da máquina. E ele ficou nesse estado por um bom tempo.

Um comentário:

  1. Olá , estava lendo seus relatos , parabéns , ótima idéia !
    Amanha irei para a diálise de número 1543 !
    Agradeço todo dia por mais um dia !
    Vamos levando, pesando o custo beneficio ;
    Boa sorte sempre ;
    Renato.

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