domingo, 4 de julho de 2010

Sessão de Hemodiálise 424



Onde você estava quando...

É comum que lembremos onde estávamos ao tomarmos conhecimento de um evento notável, histórico, ou traumático, como a queda do muro de Berlim, a chegada do homem à Lua, o assassinato de John Lennon, as vitórias do Brasil na Copa ou o acidente dos Mamonas Assassinas. As gerações mais antigas se lembravam do que faziam quando escutaram a notícia do assassinato de John Kennedy. As mais novas com certeza se lembram de onde estavam ao saberem dos ataques do 11 de Setembro com essa mesma nitidez. No meu caso, é ainda mais fácil responder a essa pergunta, pois foram muitas as vezes em que assisti pelas TVs dos quartos de hospital ou da sala de espera dos prontos-socorros os acontecimentos marcantes no Brasil e no mundo.

Refletindo sobre isso, vieram-me à mente alguns episódios, relativamente recentes, levando-se em consideração meu histórico de 30 anos de internações. Por exemplo, no ano passado, em junho, quando estava hospitalizado por ter tido convulsões na hemodiálise, a única coisa que passava na TV do hospital eram matérias sobre o velório de Michael Jackson, clipes e homenagens ao músico.

Em julho de 2007, eu tinha sido hospitalizado com mais um quadro de edema pulmonar. Durante a internação, os médicos me anteciparam que se o resultado do clearance – exame que avalia a função renal – viesse inferior a 15%, eu teria de voltar à hemodiálise. Naquela noite, eu estava colhendo a urina de 24 horas para a realização do exame, preocupado com o resultado, pois, àquela altura, já não estava urinando muito, e a médica me disse que se a quantidade de urina coletada fosse inferior a 1 litro “não tem jeito, entra em programa de hemodiálise”. Eu havia acabado de jantar e estava vendo TV, à toa, quando, de repente, a programação foi interrompida pela vinheta do plantão, aquela que geralmente anuncia que algo muito sério aconteceu: “(...) daqui a pouco você verá mais detalhes sobre esse acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, que atravessou a avenida Washington Luís e acertou o depósito da TAM, provocando esse incêndio (...)”; aquele terrível acidente foi o segundo pior da história da América Latina. No dia seguinte, enquanto a mídia conjecturava as possíveis causas da queda do avião, eu recebia a notícia de que teria de voltar a dialisar, naquele dia mesmo, ainda internado.

Em outubro de 2008, eu estava internado na enfermaria do Hospital do Rim por uma crise de falta de ar. Súbito, a TV noticia o desfecho do sequestro de Eloá, que foi feita refém pelo namorado, em sua casa, no município de Santo André. O sequestro durou 100 horas, o mais longo caso de cárcere privado da história de São Paulo, e terminou em tragédia: a garota foi baleada e teve morte cerebral. Éramos dois pacientes por quarto, e eu dividia o meu com um rapaz chamado Lucas, que havia perdido o enxerto, mas já estava quase tendo alta quando eu entrei. Quando ele foi liberado, fiquei sozinho no quarto por pouco tempo. Logo em seguida chegou o meu novo companheiro na enfermaria: o garoto de 15 anos que recebeu um dos rins de Eloá! Desta vez, a notícia pulou da tela da TV diretamente para o meu lado, e eu pude testemunhar a diferença que o gesto generoso da família da moça assassinada fez para as 5 pessoas que foram salvas graças à doação dos órgãos de Eloá.

2 comentários:

  1. Olá Guilherme,
    É muito importante incentivar a doação de órgãos e conscientizar as pessoas sobre a importância deste gesto de solidariedade.
    Para ser doador de órgãos não é preciso deixar nada por escrito. O passo principal é avisar a família sobre vontade de ser doador. No entanto, os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte.Divulgue a ideia e salve vidas!
    Para mais informações: comunicacao@saude.gov.br
    Ministério da Saúde

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  2. caraca, fiquei até arrepiada!

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